sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Novos - velhos inimigos. A rivalidade entre Moscou e Berlim vai aumentar.

Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana)
Janusz Bugajski

Nos próximos dez anos aumentará a rivalidade entre Moscou e Berlim no cerne da qual estão os princípios de gestão incompatíveis, atitude em relação ao Estado de direito e os direitos humanos.


Anteriormente o principal argumento para a criação da OTAN foi formulado da seguinte forma: "Para manter os alemães resignados, russos na distância e americanos às pressas". Na base das mudanças geoestratégicas dramáticas nas últimas duas décadas novas realidades européias são vistas bastante diferentes: Berlim - em ascensão, Moscou pressiona, e Washington retrocede. Neste novo contexto as relações germano-russas desempenharão um papel fundamental no futuro do continente.

Redistribuição estratégica do poder

O desenvolvimento da Alemanha e a investida da Rússia (contra cada vez maior paralisia da UE e imutável indiferença dos EUA à Europa) promete implacável competição nos próximos 10 anos. No entanto, os países não competirão pelo território, mas pela difusão da influência do Estado.

As relações entre FR e UE deterioraram após o retorno, no ano passado, de Vladimir Putin, à cadeira presidencial. Anteriormente, ele tinha três amigos influentes: o chanceler alemão Gerhard Schroder, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e o presidente francês Jacques Chirac. Já com os atuais líderes da UE, especialmente Angela Merkel, as relações recíprocas não são boas, e a antiga "relação especial" com a Alemanha cada vez mais se perde.

A visita de Putin a este país no início de abril teve lugar no contexto de graves tensões políticas bilaterais. E elas crescem, apesar de que em 2012 o comércio russo-alemão atingiu um novo recorde, as ligações energéticas, provavelmente serão fortalecidas devido ao planejado novo ramal de gasoduto "Nord Stream" no fundo do Mar Báltico.Sim, Angela Merkel aproveitou o encontro com Putin para enfatizar as deficiências marcantes dos direitos humanos e desenvolvimento democrático na Rússia.

O reforço da posição da Alemanha tornar-se-á um desafio direto para as ambições russas na Europa

À escalação dos conflitos entre os dois países conduzem alguns fatores de caráter político e econômico, com agravamento que vem à tona a antiga rivalidade estratégica pelo domínio na Europa.

A crise bancaria em Chipre reavivou a guerra econômica entre Berlim e Moscou. Os funcionários de Estados do continente estão indignados com a exportação da corrupção da Rússia e correspondente influência sobre diversos países - membros da UE; ao mesmo tempo Moscou acusa UE no roubo descarado, como considera a política dos depósitos em contas na ilha. Concedida a Chipre (sob a égide da Alemanha) ajuda financeira para evitar falência causou graves prejuízos para investidores estrangeiros. Maioria deles - russos, que de acordo com estimativas, guardam em bancos da ilha aproximadamente 30 bilhões de euros. Quase 4 bilhões de dólares serão alocados, e os depósitos restantes submetidos a rigorosos controles de capitais. A maior parte desses fundos consideram-se como lucros ilegais, lavagem dos quais tem lugar em Chipre.

As autoridades russas declararam que podem punir a UE pela questão do Chipre, na qual Berlim é tratado como figurante principal. Alguns conselheiros de Kremlin propuseram congelar os ativos das companhias alemãs que trabalham na Rússia (particularmente Audi, BMW, Mercedes, Siemens e Bosch), ou introduzir novos impostos sobre seus bens. Negócios-lobby da Alemanha apoiaram ativamente a aproximação com Moscou; se o governo russo realmente começar pressionar os empresários, agravar-se-ão as relações políticas.

Embora na Rússia ferozmente criticaram os acordos de ajuda financeira a Chipre, os analistas acreditam que os oligarcas e gestores de topo de empresas estatais da FR tinham a possibilidade de retirar em tempo seus recursos. As maiores vítimas foram os representantes de empresas médias e pequenas, que abriram contas em Chipre devido a incerteza no sistema financeiro em seu país.

Exceto o papel de oásis para não pagamento de impostos, para os russos ricos a ilha desempenhou ainda um importante papel geopolítico aos olhos de Moscou. Ela se tornou um intermediário para muitos de seus contratos para o fornecimento de armas a países como Síria, Líbano e Irã.  E em conflito com outros membros da UE Kremlin sempre podia contar com o apoio de Nicósia.

Durante a restauração do sistema financeiro em Chipre um dos alvos da Alemanha e outros países-membros da UE era evitar a propagação do impacto estratégico da FR no Mediterrâneo Oriental. No transcorrer dos acordos de auxílio aos bancos o governo cipriota propôs ao Kremlin o uso da base militar no porto de Limasol, substancial participação no capital recentemente descoberto na exploração de gás marítimo e participação de tal acordo, a primeira proposição reforçaria as possibilidades militares de Moscou, enquanto a última expandiria o papel da Rússia no setor energético na Europa.

Além de restaurar a ordem em Chipre e em outros países que sofrem dos efeitos nocivos da influência russa, Berlim agora apóia a investigação da Comissão Européia quanto a monopolização dos mercados europeus por Gazprom. A Alemanha não quer mais tolerar o fato de que o monopolista russo usa energia como instrumento de influência política e potencial de chantagem. Os governantes do continente cada vez mais protestam contra o controle do monopolista Gazprom sobre o fornecimento e transporte de gás para Europa. Com isso Putin e seus oligarcas irritaram-se, eles continuam considerando o bombeamento dos recursos energéticos como principal instrumento de política expansionista externa da FR.

Direitos humanos e agentes estrangeiros

Além disso, Berlim começou protestar mais abertamente contra a deterioração da situação com os direitos humanos na Rússia. Os governantes e parlamentares, bem como várias organizações não-governamentais alemãs apoiaram o movimento antiputin que começou na Rússia em dezembro de 2011. Em resposta, os órgãos policiais iniciaram a perseguição às Fundações não governamentais alemãs que promovem a democracia e supostamente criam ameaça à soberania da Rússia. Recentemente sofreram derrotas duas ONGs políticas alemãs em Moscou e São Petersburgo: a sua obra foi paralisada, então o ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle expressou fortes críticas ao governo russo.

De acordo com a lei russa, promulgada em julho do ano passado, as organizações não-governamentais patrocinadas pelo exterior, que realizam atividades políticas, devem registrar-se como "agentes estrangeiros". Aos divergentes ameaçam pesadas multas ou até mesmo prisão. Portanto, hoje há investigação contra a Fundação Konrad Adenauer e Fundação Friedrich Ebert. A primeira está intimamente ligada ao Partido Democrata Cristão da chanceler alemã Angela Merkel, a segunda - com a oposição social - democrata. Os diplomatas de Berlim advertiram, que a inibição às atividades da Fundação FRA - República Federal da Alemanha, pode afetar significativamente as relações bilaterais.

Os próximos passos dependem dos resultados das eleições de setembro para o Bundestag. O candidato a Chanceler do Partido Social-Democrata Peer Steinbrueck defende a atitude tradicional a Moscou, independentemente de seu comportamento. Em uma entrevista recente ele argumentou que os padrões democráticos ocidentais não se aplicam a Rússia. Estas palavras ecoam a posição do ex-parceiro de Putin e presidente do Conselho de Acionários do "Nord-Stream" ex-chanceler Gerhard Schroeder. Ainda é cedo para expressar previsões sobre o vencedor, no entanto a chanceler Merkel tem a oportunidade de desenvolver uma visão estratégica consistente do papel da Alemanha na Europa, que vai ajudá-la a preservar o seu poder.

A afirmação da Alemanha

Vários fatores reforçam atitudes e auto-confiança de Berlim na Europa. Trata-se de uma situação econômica interna bastante estável, apesar da recessão econômica geral na Europa; as divisões políticas dentro da UE aumentam a credibilidade da Alemanha como uma força progressista; o colapso dos EUA e concentração da diplomacia americana com foco em regiões fora da Europa; consolidação da identidade nacional alemã, dá possibilidade para competir com a Rússia.

Após a Segunda Guerra Mundial, um dos principais objetivos da construção de instituições européias foi a supressão do nacionalismo alemão. Mas, em meio à crise financeira e recessão econômica na Europa, a sociedade alemã, obviamente decepciona-se com o projeto europeu. De acordo com uma pesquisa sociológica recente realizada pelo canal ZDF, 65% dos alemães têm a opinião de que a utilização do euro prejudica o país, 49% acreditam que a Alemanha estaria melhor fora da UE. Há uma crescente insatisfação com as consequências da crise financeira e, provavelmente, um em cada quatro alemães hoje está pronto para votar no partido que se opões ao euro.

De acordo com uma pesquisa realizada pela revista semanal Focus 26% dos cidadãos alemães estão dispostos a apoiar o partido político que guiará Alemanha para fora da zona do euro. O novo movimento "Alternativa para Alemanha" (AfD) recentemente organizou uma reunião em Berlim. Esta reunião exige que o Estado abandone o euro e volte para o marco alemão ou crie uma moeda única com a Holanda, Áustria, Finlândia e outros países financeiramente estáveis.

Os principais partidos alemães ainda apoiam o euro e a UE, apesar de alguns protestos internos em conexão com a ajuda financeira aos países do sul da Europa, como a Grécia e Portugal. A chanceler Merkel tentou garantir o eleitorado, insistindo que os grandes devedores devem implementar regime estrito da economia e pagar as dívidas. Sua posição reforçou sentimentos antiberlim na Europa e encorajou as pessoas a falar sobre o chauvinismo alemão. Os social-democratas e os"verdes" apoiaram Merkel na solução de problemas financeiros da Europa, mas a popularidade do AfD (AfD - novo partido alemão criado por intelectuais, políticos, economistas, liberais e conservadores. Consideram que os países do sul, em crise deveriam sair da zona do Euro - OK) crescerá significativamente se nos próximos meses começar uma nova crise financeira.

Resultados eleitorais incertos na Itália deram à "Alternativa... " cartas na mão, porque muitos fatos indicam que o novo governo em Roma, de Enrico Letta pode dispensar a austeridade prometida. O lider da AfD Bernd Luque declarou, que o risco do cumprimento da Itália de obrigações da dívida põe fim às promessas do país: a de que a Alemanha vai resgatar o empréstimo. Da mesma forma, a coalizão de esquerda radical grega "Syriza, que, segundo as pesquisas é lider, declara que se recusará a pagar as dívidas de Atenas, se chegar ao poder.

O ressentimento dos contribuintes alemães e a onda de sentimentos antialemães dentro da UE podem começar a expulsão do país para fora da UE.

Competição da nova geração

A afirmação da Alemanha, juntamente com o aprofundamento das divisões econômicas e políticas entre o Norte e o Sul da Europa poderá levar ao surgimento de um poderoso núcleo europeu liderado por Berlim e subordinada periferia da UE. O fortalecimento da Alemanha será, além disso, um desafio direto às ambições russas no continente. Kremlin necessita governos flexíveis, que apoiarão seus interesses estratégicos, ou pelo menos manter-se-ão neutros.

As batalhas políticas entre Berlim e Moscou tornar-se-ão mais frequentes na arena internacional. Um fator significativo de tensão já existe: conflito de interesses no Oriente Médio, onde a Alemanha favorece EUA. Os poderosos alemães colocam-se, contra o apoio russo a regimes autoritários e podem recorrer a duras críticas de sua tentativa de criação de União Eurasiana na base de países da Europa Oriental, Cáucasos e Ásia Central. Ao contrário da UE, tal aliança será baseada na opacidade econômica, liderança despótica e controle russo. 

A nova rivalidade estratégica entre Alemanha e Rússia não se baseará nas ideologias de única etnia ou ambições imperiais, relacionadas com expansão, como foi durante a Segunda Guerra Mundial. Desta vez vamos falar sobre incompatíveis princípios de gestão, atitudes em relação ao estado de direito, direitos humanos e disciplina econômica, que influenciam toda a Europa.

Tradução: Oksana Kowaltschuk


Nenhum comentário:

Postar um comentário