quarta-feira, 21 de agosto de 2013

PLANO RUSSO CONTRA A UCRÂNIA: Consciente e cruel

Gazeta.dt.ua (Espelho da semana), 16.08.2013
Yulia Mostova e Tetiana Celina

O fato de que a Rússia esta na ofensiva, agora ninguém mais duvida. O fato de que o objetivo tático deste ataque - frustrar a assinatura do Acordo de Associação com UE pela Ukraina - também. Na densa cortina de fumaça de relatos conflitantes da mídia conduzem-se apenas discussões como considerar as primeiras bravatas da Moscou, o que é isto - foguetes de sinalização ou já explodem projéteis de combate?

Recebidos os últimos informes confiáveis da linha de fogo, podemos afirmar: Rússia abriu o primeiro front ukrainiano. Por enquanto primeiro.

De acordo com relatórios de inteligência DT.UA, até recentemente, Rússia não considerava a guerra econômica como o principal meio de combate da convergência da Ukraina com União Européia e assinatura da associação. Kremlin tinha certeza: a estadia de Tymoshenko na prisão - garantia mais confiável para o acordo não acontecer. Ao fato de que Tymoshenko permanecerá na prisão, Kremlin também não duvidou. E Moscou se permitiu relaxar. Mas não fechou completamente seus olhos para o nosso namoro pró europeu e, aparentemente decidiu: Ok, deixe que dancem antes do casamento  - com a União Aduaneira, é claro.

No entanto, no início de junho, Moscou recebeu a informação de Berlim, de que Merkel já não considerava a prisão de Tymoshenko como obstáculo intransponível e inclinava-se para assinatura do Acordo. Moscou rapidamente acordou e, não no melhor humor. Imediatamente foi realizada uma reunião de emergência e Putin encarregou seu assessor S. Hlazyev para projetar uma estratégia que anulasse completamente a possibilidade da assinatura do Acordo de Associação da Ukraina com UE.

Hlazyev chamou para ajudar V. Medvedchuk que, além de ser pessoa de confiança de Putin, de acordo com os entendidos desempenha a proposição... de Yanukovych, o papel de "ligação" da Bankova com o Kremlin. O fato é que Yanukovych já escolheu para o papel de confidente vários candidatos, de Liovochkin e Boiko a Poroshenko e Klyuyev - mas não se satisfez com nenhum deles. Putin e Yanukovych falam "idiomas diferentes", então eles precisam de tradutor, cujo papel às vezes desempenha o compadre (Medvedchuk) do presidente russo.

A estratégia de pressão sobre Ukraina foi desenvolvida em curto espaço de tempo e colocada a Putin. Analisando próprios erros, Moscou chegou a conclusão que, pela primeira vez eles perderam a guerra de informação. Após cuidadoso monitoramento dos meios de comunicação, ao líder russo não somente apresentaram os impressionantes temas dos principais canais ukrainianos, sobre como é ruim a União Aduaneira e como será bom a Ukraina o Acordo de Associação com UE, mas também incluíram a relação dos proprietários desses canais, seus negócios e comércio exterior com a Rússia: sobre Pinchuk com seus tubos, e Poroshenko com seus doces, e que pessoalmente faz campanha na TV pela Associação, e sobre Kolomoiskyi, que roubou descaradamente "UkrTatOil", e sobre "Família, que murmura sobre opção européia,  mas quer fazer fluxos no petróleo russo, - uma palavra, sobre todos que "engordam" pelas contas da Rússia e lhe recompensam com negra ingratidão.

Kremlin ficou furioso - não pode tão descaradamente morder a mão do seu ganha-pão. Ukraina, indispensavelmente deve ser colocada em seu lugar a ela designado na União Aduaneira, atingindo a fileira de seus pilares econômicos. Prejudicando os maiores produtores ukrainianos que exportam seus produtos para Rússia, Moscou pretende criar desafios significativos para os seus negócios, forçando seus proprietários a afinar seus insolentes meios de comunicação e exigir do governo da Ukraina rejeitar o Acordo de Associação com UE em proveito da UA. Mas, mesmo sem a pressão aos oligarcas as autoridades ukrainianas, de acordo com o projeto, brevemente deveriam sentir o sopro da guerra até numa profunda retaguarda.

De acordo com alguns dados, durante os sete meses a exportação ukrainiana caiu 12%, para Rússia - mais de 20%. Se esta tendência de continuar desdenhando a importação ukrainiana na Rússia continuar, no final do ano Ukraina pode perder de 5 a 8 bilhões de dólares.

Problemas com negócios de grandes exportadores e contribuintes de impostos, que constituem parte significativa do orçamento e do PIB, inevitavelmente conduzirá a uma menor produção, redução da receita, falta de pagamento de salários ou perda de emprego e... o quê? Correto - ao crescente descontentamento do eleitorado, que mesmo anteriormente não tinha muita compaixão pelo atual governo. Um dos objetivos do Kremlin - deslocar o fundamento eleitoral sob os pés de Yanukovych nas províncias do leste e sul do país. Como mostra a sociologia russa, ao proprietário da Bankova, com diferentes graus confiam 21% dos cidadãos da Ukraina, e ao proprietário do Kremlin 42%. Com base nestes números, Moscou espera que, em busca do culpado na acentuada deterioração da situação sócio-econômica do país e do colapso das esperanças para a restauração da amizade e amor com a Rússia os habitantes da Criméia e Odessa, Kharkiv e Zaporizhzhia, Luhansk e Donetsk apontarão naquele que confiam menos, e em oposição ao Yanukovych e Putin apoiarão o último.

Informe do alfandegário campo de batalha

Em 14 de agosto, o Serviço Federal da Alfândega da Rússia para as primeiras quatro dezenas de empresas citadas em julho deste ano, adicionou todos os exportadores ukrainianos. "E as medidas de segurança tornaram-se ainda mais reforçadas". Segundo informação da Federação dos Trabalhadores da Ukraina - FRU, a alfândega verifica todos os carregamentos ukrainianos, incluindo descarga, sobrecarga e novo carregamento. "Isto  leva ao aumento do tempo parado e, consequentemente, aumenta os custos ou frustra a entrega da mercadoria, danifica a produção, enfraquece a posição dos fabricantes ukrainianos no mercado da FR. Sendo que o mercado russo para muitas empresas ukrainianas - tem importância crítica", - enfatiza FRU. Segundo a Federação, a exportação de bens ukrainianos para Rússia na segunda metade deste ano foi projetada em 8,5 bilhões de dólares. "As perdas da Ukraina provenientes das ações do lado russo podem alcançar, dependendo da evolução dos acontecimentos, 2 - 2,5 bilhões de dólares somente no segundo semestre deste ano." - estimaram na FRU.

O governo da Federação Russa oficialmente renegou sua participação, explicando que a decisão sobre suspensão das importações ukrainianas assumiu o serviço alfandegário russo. No Serviço Aduaneiro Federal da FR anunciaram sobre a expansão da lista de documentos indispensáveis e persistentemente criam obstáculos para entrada de produtos ukrainianos para o mercado russo. De acordo com representantes de muitas empresas ukrainianas, cujo produto não pode passar pelo desembaraço aduaneiro os guardas russos agem conforme padrão: reviram o certificado de origem CT1, que permite a entrada na FR sem pagamento de imposto no âmbito da Comunidade dos Estados Independentes - CEI, manifestam dúvidas sobre a autenticidade do documento e exigem outras provas. E propõem deixar a mercadoria nos terminais da alfândega (um ou dois meses), entregando a lista de preços para os serviços de armazenagem, manuseio, descarregamento e carregamento. Se não lhe agrada esta opção, você deve entregar imediatamente a mercadoria para o comprador? Por favor, pague a taxa alfandegária estabelecida para os importadores europeus (você quer fazer parte da Europa, certo?) e siga viagem. Vai enviar queixa ao tribunal? Sim, por favor! Depois de seis meses ele dará a decisão, depois compareça. A produção de algumas empresas, por exemplo, aquelas que fornecem a Rússia legumes e frutas, na fronteira com o máximo rigor foram verificadas também pelos serviços fitossanitários. Em outros, como o "Metinvest" a alfândega começou exigir amostragem, em consequência do que violou a integridade do metal.

E, na Duma estatal explicam: não há nenhuma política, simplesmente dificuldades burocráticas, porque Ukraina - não é um membro da União Aduaneira, na UA para ela seria mais fácil...

Muitos exportadores ukrainianos como o "Obolon", decidiram não abusar da sorte e, cessaram suas exportações para FR, esperando para ver quais novas invenções alfandegárias adotarão os russos. A espera pode ser longa, e não somente alfandegária.

Por que dormiram

E agora, uma das questões mais importantes: por que Ukraina revelou-se absolutamente despreparada para tal rumo de acontecimentos? Mas, de acordo com nossas informações, ainda em fevereiro Yanukovych foi informado sobre possíveis sanções econômicas da Rússia; e que os países da UA estão desenvolvendo novas exigências para qualidade da produção; advertiram, que era necessário preparar-se, incluíndo uma possível larga escala de bloqueio econômico. O presidente, segundo nossas fontes, compartilhou a informação com o primeiro-ministro, que teria acenado, como dizem, não se preocupe, tudo resolveremos.

Os sinais alarmantes continuaram a fluir. Das embaixadas ukrainianas, que testemunhavam o trabalho dos russos nos países da Europa com criação de dificuldades para assinatura do Acordo de Associação  e propaganda da UA. E da própria Rússia que advertia (embora debilmente), que no caso da criação da Área de Livre Comércio - ZVT, com UE Ukraina se exporá às dificuldades econômicas com UA. E, também de especialistas, os quais não acreditavam que Rússia simplesmente "deixará ir" Ukraina. E, dos negócios. Aliás, o acima citado comunicado da Federação dos Trabalhadores da Ukraina - já é terceiro.

No entanto na Bankova todos estavam calmos - seja enganando-se pela moleza da Rússia, no período inverno-primaveril, ou por acreditar em gênio anticrise, ou contando com o habitual "provavelmente passará".

Onde estava, com o que se ocupava a nossa inteligência e contra-inteligência, não está claro. Para onde olhava nossa Embaixada?

De acordo com nossa informação, já em julho, quando em muitos de nossos produtores iniciaram-se as dificuldades, o presidente da FRU enviou memorando a Yanukovych no qual citou trechos dos documentos do Serviço Aduaneiro Federal da Rússia, contendo uma lista de 49 "de alto risco" empresas ukrainianas e informou as dificuldades que têm surgido. Em conexão com isto somente na semana passada (!) o Presidente instruiu RNBOY (Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ukraina) coordenar os trabalhos de avaliação e previsão, como, provavelmente, percebeu que isto é uma questão de segurança nacional, e não problemas particulares como o declarou publicamente o primeiro-vice-Primeiro Ministro Arbuzov. E, finalmente, ontem Azarov (Primeiro Ministro) criou um grupo  (liderado pelo vice-primeiro-ministro Boiko) para resolver a situação. Neste grupo não entrou nem o representante do Ministério do Exterior, porém foi incluído o indicado do "posto de observação da União Aduaneira na Ukraina " V. Muntiyan.

E por que o governo não se preocupou com o problema? Porque ele acredita que estes são problemas pessoais dos empresários. Até agora Azarov e Arbuzov, de acordo com nossas informações, davam instruções aos ministros "não apoiem", exceto uma ajuda muito seletiva àqueles que poderiam ser interessantes ao apoio da "Família". Porque para "Família" há apenas duas tarefas primordiais - manter a situação até as eleições e preservar os próprios lucros.

Somente nossos míopes e imprevidentes "pastores" não entendem, que não devem apenas acariciar e desvelar-se pelos alimentados rebanhos do negócio ukrainiano, os quais eles podam e ordenham, mas também proteger os cabeças da manada dos escandinavos do norte. Do contrário os poderão ordenhar e podar outros.

Yanukovych não reconhece, que a principal ameaça ao seu poder e propriedade - não é Tymoshenko, mas Rússia. Uma vez no poder e temeroso de perder as simpatias da base do eleitorado ele flerta com Kremlin ao invés de carregar os melhores cérebros da estratégia de desenvolvimento do país a longo prazo para as relações com o vizinho estratégico. Isso não foi feito mesmo quando essas relações começaram a inflamar. Contudo, graças à verdade observamos: a quem carregar? Arbuzov, Prasolov, Kozhara? É ridículo. Embora, com certeza, é trágico. Para o país, a máquina de estado é ineficiente, mesmo em tempos de paz. O que podemos dizer sobre o estado de emergência econômica.

Acordou - pense
o que você fez pela Ukraina

Estas palavras do ex-presidente russo Bóris Yeltsin hoje devem aplicar-se a todos políticos ukrainianos, burocratas, empresários, jornalistas, cidadãos.

No entanto, o que Ukraina pode fazer nesta situação? Eis o básico. - Imediatamente criar um centro situacional, onde grupos de peritos e juristas poderão procurar soluções e trabalhar num conjunto de medidas pertinentes e preventivas.

É claro que os atuais problemas da Ukraina devem tornar-se objeto de investigação internacional. Kyiv deve apelar a OMC, de quem é sócio como Rússia. De acordo com nossos interlocutores europeus, Ukraina pode contar com um suporte sólido da UE. Parece que não ficarão de lado os EUA, e outros membros da OMC, enquanto a Rússia - o único país na história, que começou a violar as regras da organização (e não apenas para Ukraina), não permanecendo em suas fileiras mesmo um ano.

É necessário pedir consulta urgente à Comissão Européia, por é por causa de seu desejo de assinar o Acordo de Associação que a economia ukrainiana encontrou-se na zona de fogo russa. Mas, é necessário executar todos os itens da "lista Fule" para que em novembro todos os itens do "dever de casa" sejam executados.
Vale apelar também à arbitragem da Zona de Livre Comércio - CIS, pois que, o nosso comércio é livre, hoje ninguém dirá.

E o que será se Ukraina parar de bombear o gás russo para Europa, por exemplo, duvidando de sua origem russa ou alegando que sua qualidade não segue padrões ukrainianas. A União Européia ficará revoltada? Sim, é preciso expor os nossos problemas a nível internacional. Pensam que é piada? Não, eu ouvi essa proposta de pessoas muito sérias. "Na guerra é como na guerra", - dizem eles.

Nós consideramos que poderemos resistir a este "ataque psíquico" somente com união. Devem consolidar-se os oligarcas ukrainianos, porque é óbvio que o tempo em que os problemas podiam ser resolvidos individualmente já passou. A ameaça comum deve unir e incentivar ao desenvolvimento de um plano coordenado de ações.
A sociedade ukrainiana também deve mobilizar-se. Sim, Rússia é nossa vizinha e parceiro, ao qual chamam de estratégica. Mas ela não se comporta como vizinha, e muito menos como parceira. Será que para alguns ainda não está claro? A comunidade ukrainiana na internet já explodiu com apelos para não comprar produtos russos. Nós não temos menos razão que os americanos e europeus que, demonstrativamente, nas últimas semanas derramam no asfalto a vodka russa.

É improvável que Rússia esteja aguardando resistência eficaz da Ukraina, e é porque sabe como nós o preço das autoridades ukrainianas - seu intelecto, profissionalismo e patriotismo. E porque nos últimos quinze anos Kyiv reagia a todas as maquinações de Moscou ou com deplorável sorriso ou raivoso murmúrio - não mais. Ukraina não se ornou com a garantia de um memorando sobre sua segurança e não dirigiu-se à arbitragem de Estocolmo, perdeu oportunidade para resolver muitos de seus problemas econômicos com a adesão de Moscou a OMC na etapa de sua entrada a esta organização.

Na véspera  do Dia da Independência, os cidadãos, o governo, a oposição, os jornalistas, o "terceiro setor" devem decidir que Ukraina nos é necessária. "Dada de presente" ou verdadeira. Qual deve ser conquistada e qual precisa defender.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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