sexta-feira, 16 de agosto de 2013

HOLOKOST: O inferno na terra - 5ª parte

(Continuação da 4ª Parte)

LEMBREMOS DE VYNNYTSIA - 5ª PARTE
 
Antin Drahan
 
ASPECTOS E CONDIÇÕES DE CADÁVERES E VESTIMENTOS
 
Como já mencionado, as roupas e os cadáveres estavam amontoados nas sepulturas coletivas sem nenhuma ordem. Isto nos indica que eram jogados de cabeça para baixo. Somente uma parte das roupas encontrava-se em algum estado de conservação, a maioria apodreceu. Em algumas sepulturas as roupas estavam queimadas e foram constatados dois motivos. No primeiro caso, o fogo surgiu ainda por ocasião do enterro porque foram jogados fósforos acesos ou tocos de cigarro ainda aceso. No outro caso o fogo surgiu espontaneamente devido aos processos químicos ali existentes.

O resgate dos cadáveres encontrava ainda, outras complicações e dificuldades. Em várias sepulturas, principalmente no pomar, entre as camadas de vestimentas e cadáveres havia uma camada de cal virgem. A cal era jogada nos cadáveres provavelmente para eliminar o mau cheiro quando inicia-se a decomposição. Após alguns anos a cal e os cadáveres da camada subseqüente formaram uma massa sólida. Também em sepulturas onde não havia cal, o resgate não se apresentava facilmente. Como já mencionado, os cadáveres, na maioria foram jogados de cabeça para baixo, e além de estarem em desordem ainda encontravam-se trançados. E, além do próprio peso, havia o peso da camada de dois metros de terra que os transformou num corpo reunido, compactado. Era preciso retirá-los com muito cuidado para não lhes causar mais danos. Somente numa grande vala nas primeiras escavações no pomar, os cadáveres encontravam-se arrumados com bastante ordem. O que predispôs os carrascos a tanta "bondade" não é possível adivinhar. Talvez esta tenha sido a primeira cova e eles ainda não haviam adotado o costume de jogar a cabeça para baixo.

IDENTIFICAÇÃO DOS CADÁVERES

Como já relatado anteriormente, todos os cadáveres masculinos apresentavam as mãos amarradas nas costas, às vezes em dois locais. Alguns tinham também as pernas amarradas. Todos vestiam as roupas típicas soviético-ukrainianas usuais da região. Os cadáveres masculinos vestiam camisa, calça e casaco ou paletó. Alguns ainda vestiam cueca e camiseta. De 196 cadáveres femininos, 49 estavam completamente nus. Todos, de acordo com a comissão médica eram jovens e a maioria de cadáveres femininos  usava apenas uma camisa (A camisa feminina, daquela época, pode ser comparada a uma camisola. O comprimento ia até abaixo dos joelhos. Era bordada no peito e mangas, por cima usava-se uma saia). Isto induziu à terrível suspeita, corroborada com testemunhos, que estas mulheres antes do seu assassinato, ainda foram desonradas pelos seus carrascos. Somente os cadáveres de algumas mulheres mais velhas estavam vestidos. Ao contrário dos cadáveres masculinos, somente poucas mulheres tinham as mãos amarradas.

Estabelecer a identidade dos cadáveres de acordo com os procedimentos normais era impossível. Não se podia reconhecê-los, digamos - pela expressão de seu rosto. Daí, procurar com atenção uma possível anomalia de seu corpo, principalmente a existência de amputação nas partes terminais. Essas descobertas eram anunciadas na imprensa local e desta maneira conseguiu-se estabelecer a identidade de 15 cadáveres. Também dedicou-se atenção especial aos dentes e sua inserção ou falta. Mas esta averiguação não deu resultado porque naquele tempo não havia em Vinnytsia nenhum dentista que trabalhasse aí anteriormente. Também não havia nenhuma possibilidade de estabelecer a identidade pelo cabelo devido as alterações químicas nas sepulturas. A maior parte de identificações deu-se pela roupa e documentação.

Simultaneamente com as tentativas de estabelecer a identidade dos cadáveres, a comissão médica envidava todos os esforços para estabelecer suas idades, porque isto poderia ser a chave de investigação médica e jurídica. Ajustando métodos médico-jurídicos modernos, a idade era possível estabelecer com bastante precisão, salvo poucos erros. Nestes casos os dentes desempenhavam importante papel porque a idade da pessoa pode ser conhecida, não tanto pela quantidade de dentes preservados, como pelos dentes sãos. Em alguns casos as conclusões deduziam-se pela distribuição da pele no rosto, nas orelhas. Com base nos dados obtidos instituiu-se que as pessoas - cadáveres, encontradas em todas as sepulturas nos três meses de escavações, e examinadas conforme descrito, dividiam-se pela idade em tês categorias: entre 20 - 30 anos...638; entre 30 - 40 anos...4.076; acima de 40 anos...1.366. A idade dos demais não foi possível estabelecer, nem mesmo aproximadamente. Concluiu-se que as vítimas dos bolcheviques, no extermínio da nação em Vinnytsia foram, principalmente, homens na idade entre 30 e 40 anos.

CAUSAS DA MORTE

Todos os cadáveres resgatados denunciavam sinais evidentes de tiro na nuca. Somente em poucos casos isto não pôde ser comprovado devido aos danos sofridos pelo cadáver durante as escavações. Na maioria das cabeças de cadáveres foram encontradas balas. E, geralmente mais de uma. Dois tiros provados em 6.360 casos. Três buracos de bala havia em 78 crânios e 2 cadáveres possuíam 4 sinais de tiro. Outros possuíam uma marca de tiro ou a quantidade de tiros não pôde ser estabelecida.
Uma certa quantidade de cadáveres apresentava crânios esmagados com objetos sólidos, provavelmente cano de pistola. Além de tiros na nuca, alguns cadáveres apresentavam ainda tiros adicionais na testa ou no lado da cabeça.
Certa quantidade de cadáveres possuía ainda, além de balas na nuca, os lábios repuxados forçosamente até a garganta, e outros um laço no pescoço.
A comissão médica com grande precisão ainda estabeleceu a espécie do tiro. Foi confirmado que nem todos os tiros eram mortais, principalmente os que não atingiam o cérebro. Muitos tiros podiam apenas causar completa paralisação, não a morte, nem tiravam a consciência. E, daí se conclui que os carrascos davam a tarefa por concluída porque somente em alguns casos davam o golpe de misericórdia com forte pancada na cabeça. O esmagamento do crânio com pancadas foi constatado em 395 casos. As observações subseqüentes permitiram justificar a suposição que uma grande quantidade era enterrada viva. A testemunha deste fato é que dentro das gargantas e até nos intestinos foi encontrada terra que, sem dúvida, foi engolida quando já nas valas coletivas cobertos com terra.

BALAS E TIROS

Como é comum acontecer nas investigações jurídico-médicas, em Vinnytsia foi dedicada muita atenção aos crânios dos cadáveres, às balas nos lugares das escavações e à natureza dos tiros. Como já foi referido muitas balas foram encontradas nos crânios dos cadáveres que apresentavam-se deformados devido ao choque com os ossos. Mas, com base no seu peso e medição dos orifícios causados no crânio, constatou-se que os carrascos utilizaram armas automáticas de mão, de pequeno calibre. Todas as balas possuíam diâmetro inferior a 6mm. Algumas balas, talvez devido a alguma incorreção de tiro ou falha mecânica, alojavam-se na nuca sob a pele, não chegando aos ossos. Nesses casos elas preservaram sua forma e peso original que reportava às balas deformadas. O seu diâmetro apresentava 5,6 mm, 1,2 cm de comprimento e 2,5 g de peso. Nos lugares das escavações, nas sepulturas ou entre as roupas, somente poucas vezes foram encontrados cartuchos, mas somente uma única vez, após limpeza, foi possível ler: "T33". A quase total ausência de cartuchos faz supor que as vítimas não eram fuziladas no local onde eram enterradas, salvo, algumas exceções.

Outro ponto importante para estabelecer era a distância da qual eram os tiros disparados na nuca das vítimas. Foram averiguados os sinais que a bala deixava quando disparada entrava no corpo. É evidente que a longa permanência dos cadáveres na terra dificultava as investigações, mas em muitos casos, ainda assim foi possível confirmar sinais claros de queimaduras, tanto na pele, quanto na roupa, que claramente evidenciavam que os fuzilamentos foram executados de pequena distância. E em alguns casos, podia-se afirmar que a arma foi encostada na cabeça da vítima.

MODO E LOCAL DOS FUZILAMENTOS

A investigação dos cadáveres pelos especialistas, sem sombra de dúvida revelou que os fuzilamentos eram executados por mãos hábeis e que com algumas exceções eram finalizadas em outro local, não nos lugares das escavações, sobre as sepulturas ou dentro delas.

Com apenas alguns casos rejeitados foram determinados dois métodos de fuzilamento. No primeiro procedimento atiravam na nuca da vítima, de baixo para o alto, na direção do cerebelo. O segundo método consistia atirar na nuca da vítima apontando para a primeira vértebra cervical, que sustenta a cabeça, cuja perfuração provoca morte certa. Nos dois procedimentos aplicavam com exatidão o sistema elaborado. A mudança da técnica do fuzilamento era ditada, provavelmente, pela força da arma de fogo em uso.

Durante as investigações surgiu a pergunta, em que posição encontrava-se a vítima durante o fuzilamento. As marcas de tiros e a direção das balas indicaram que todos eram fuzilados na posição vertical, em pé. O tiro na nuca em direção a testa somente poderia ser dado nesta posição. Muitos cadáveres possuíam sinais de tiros suplementares na coroa, na testa ou têmporas. Com base nestes tiros a comissão pôde afirmar que os verdugos freqüentemente davam o golpe de misericórdia às suas vítimas segurando-as em posição inclinada, ou quando elas já se inclinavam abatidas pelo primeiro ou segundo tiro. Em outras ocasiões, com anteriormente descrito, a vítima tinha o crânio esmagado pela própria arma.

Quando se queria determinar o local dos fuzilamentos, as deduções da comissão e as confissões das testemunhas confirmavam que todas essas milhares de vítimas, com pouquíssimas exceções, não eram fuziladas no mesmo lugar em que eram enterradas. Apontava para isso a quase ausência de cartuchos de balas naqueles lugares. Uma pequena quantidade de cartuchos e alguns cadáveres nas camadas de roupas que cobriam a massa de cadáveres nas sepulturas testemunhavam que somente algumas pessoas eram fuziladas no local das sepulturas comuns. Surgiram suposições que um ou dois comissários da NKVD, no final, fuzilaram aqueles carrascos menores que fuzilavam os presos. Desta maneira limitava-se ao mínimo o número de possíveis testemunhas do crime e minimizava-se o risco de que o fato fosse revelado.

As confirmações das testemunhas e o exame das possibilidades corroboravam as suposições de que as vítimas, na quase totalidade, eram fuziladas no pátio da NKVD. Com base nos fatos, investigações e relatos de testemunhas a comissão pôde, com bastante propriedade, divulgar os pormenores daquele, em tempos de paz, sem procedência na história, extermínio da nação.

IMOBILIZAÇÃO DAS MÃOS E AMORDAÇAMENTO
 
Os cadáveres semi-decompostos já por si só atemorizavam, mas em Vinnytsya a visão dantesca ultrapassava todos os limites, quando os olhos dos espectadores fixavam-se em milhares de cadáveres estendidos no chão, com mãos amarradas para trás e amordaçados em muitos casos. Somente os cadáveres femininos - não possuíam mãos amarradas. A imobilização das mãos evidenciou uma técnica sofisticada. O barbante cingia fortemente os ossos nas duas mãos, em consequência do que em alguns cadáveres os punhos caíram. Nestes cadáveres podia-se afirmar que tais imobilizações causavam às vítimas grande dor. Para amarrar as mãos sempre usavam-se barbantes de fabricação industrial de fibra de linho, 608 mm de diâmetro e 1,20 m - 1,30 m de comprimento. A técnica para amarrar as mãos era assim: as mãos das vítimas eram torcidas para trás com as palmas viradas para os lados. Daí amarravam-se os punhos circundando-os duas vezes e ambas as pontas do barbante, uma por cima, outra por baixo, perpassavam-se mais uma vez entre as mãos e fortemente se amarrava de modo que cada mão estava em seu laço. Impossível retirar a mão desse laço. Em alguns casos os cadáveres retirados das valas coletivas ainda tinham amarrados os cotovelos. Para isto usava-se o mesmo tipo de barbante, porém mais comprido. Nestes casos circundavam com barbante os dois braços e, em seguida amarravam separadamente. Os motivos para imobilização dupla das mãos das vítimas não foi possível determinar. 

Além das mãos amarradas, 24 cadáveres ainda tinham amarrados os pés. Também foi usado o mesmo tipo de barbante. Os pés eram amarrados acima dos tornozelos e do mesmo modo que as mãos e os cotovelos. Concluiu-se que os pés das vítimas eram amarrados antes de serem levados para o local dos fuzilamentos porque a vítima podia, ainda, dar pequenos passos. Somente homens jovens tinham os pés amarrados, provavelmente para que não tentassem fugir.

Em alguns cadáveres havia o laço no pescoço, do mesmo barbante. Os laços estavam fortemente apertados com uma só ponta. Mas, ao que parece, o laço não foi a causa da morte, pois os cadáveres ainda apresentavam marcas de fuzilamento na nuca. Alguns cadáveres ainda apresentavam uma mordaça de lenço ou tecido, na boca. Essas vítimas também apresentavam marcas de fuzilamento na nuca. Daí a suposição que antes da morte ainda eram torturadas e fechavam-lhes a boca para que não se ouvissem gritos de dor.

(Continua)

Tradução: Oksana Kowaltschuk




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HOLOKOST: O inferno na terra - 4ª Parte
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