quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

HOMO SOVIETICUS

Pessoas da multidão: como formava-se o homo sovieticus
Tyzhden (Semana), 07.12.2011
Serhii Hrabovskyi

O futuro brilhante do comunismo deveria tornar-se uma consequência direta do terror em massa, denúncias, sauqes, atitude desprezível à moral humana.
 

Futuro brilhante, felicidade e prosperidade de toda a humanidade - para menos o Partido Bolchevique não estava de acordo e para esta meta do programa conduzia as nações com mão de ferro. Ao mesmo tempo esse futuro brilhante era para ser uma consequência direta do terror em massa, denúncias e saques, atitude desprezível a toda moral humana e às "desnecessárias à revolução do proletariado aquisições culturais".

A unidade dialética desses dois princípios do bolchevismo com sucesso encarnava-se na prática. "Roube o roubado!" - conclamava Vladimir Ulianov Lenin, e rapidamente, assim que acabaram os "não degolados burqueses e kulaks", as massas partidárias gostosamente iniciaram tirar as excessivas propriedades de seus próprios companheiros bolcheviques. "A coersão proletária em todas as suas formas, começando pelos fuzilamentos e finalizando com trabalho obrigatório, é um método de criação da humanidade comunista, da humanidade material da era capitalista", - escrevia o líder teórico Nikolai Bukharin. Não se completaram duas décadas, quando em estrita conformidade com esta fórmula ele, a exemplo de milhões de outros, e sob estrondosos aplausos de outros trabalhadores, foi conduzido ao subsolo para fuzilamento. "Viver se tornou melhor, companheiros. Viver se tornou mais divertido", - resumia Josef Stalin, e deu ordem à liderança da NKVD para preparar-se ao Grande Expurgo no partido e no exército. O povo aprovou "as atividades sabias do partido e do governo", os escritores exigiam "não apiedar-se dos cachorros loucos", as crianças renunciavam aos pais, e esposas - a maridos. Havia, é claro, exceções, mas elas desapareciam em campos de concentração. "A compaixão rebaixa a pessoa", - ensinava grande sabedoria à nação o grande escritor do proletariado Maxim Gorky. E com tanto sucesso ensinou que, mesmo depois de quatro décadas após o Grande Expurgo, que em maioria das testas inteligentes e iluminadas permaneceu o hábito de cruzar para outro lado, durante um encontro casual na rua com alguém expulso do trabalho "politicamente incerto" colega ou membro da família de preso político...

Mas o lado da "unidade política da nação" tinha o seu reverso sombrio. A nomenclatura, começando de escalões superiores e terminando nos inferiores, saqueava "a propriedade nacional"; e nisto a nação apoiava amigavelmente. Na época de Stalin - devido ao Holodomor, depois - pelo princípio, ainda mais tarde - para a continua melhoria de sua prosperidade. Aos ladrões, que carregavam para casa tudo o que era possível, das fábricas e kolkhozes, a gazeta "Pravda" carinhosamente chamava "carregadores." Àqueles, que excessivamente se afundavam além da conta, castigavam. Por exemplo, o secretário do Presidium do Soviete Supremo da URSS Mikhail Heorhadze, de quem em novembro de 1982 confiscaram valores no valor de seis bilhões de rublos. (Mas o qual depois do suicídio foi enterrado no Cemitério Novodivychyi em Moscou e a questão não foi divulgada porque recebia subornos conforme solução de questões, segundo "caso Leonid Ilitch"). Então não é em vão que não poucas pessoas lamentam por aqueles tempos de corrupção geral: "Os comunistas roubavam, mas também davam para nós."

No entanto, não cabe colocar nos bolcheviques toda a culpa pela excitação das piores qualidades humanas, animalização dos instintos de amplas massas. Neste plano Lenin - Bukharin - Stalin e companhia foram fiéis seguidores de dois barbudos fundamentais da "doutrina do proletariado".

"Reino da Liberdade" sobre fundamento de terror
Mais de século e meio atrás, o jovem Karl Marx, apoiando-se em seus escritos na idéia de Hegel de necessidade histórica, definiu a teoria de justiça da sociedade universal que baseava-se na liberdade espiritual, prosperidade material, elevada cultura Mas, no caminho para o tal reino da liberdade (ou comunismo), de acordo com Marx, está o sistema capitalista, que naquele tempo já preponderava na Europa Ocidental. O principal fator que impede a possibilidade de organização de uma sociedade feliz, é a propriedade particular dominante, especialmente dos meios de produção, quando a maioria dos criadores das riquezas materiais e espirituais revelam-se por assim dizer, com nada a ver com a distribuição e uso deles, quando estes benefícios confrontam seus criadores. E é porque através de uma revolução violenta e sangrenta precisa destruir a propriedade privada, "expropriar os expropriadores", e deste modo passar para o reino da liberdade, onde se revelará, plenamente, a essência criadora humana. Além do mais, exatamente durante a revolução sangrenta a sociedade deve renovar-se e purificar-se. O portador dessas mudanças, única classe social "correta", é o proletariado industrial, a parte mais ignorante e oprimida da sociedade, que de acordo com a lógica dialética de Marxx é a herdeira de toda a cultura clássica da humanidade, sua filosofia, arte e tecnologia. Outras classes desapareceriam (de que maneira, Marx não detalha) no turbilhão da revolução.

Muitos detalhes concretos e interessantes de tais mudanças estão contidos em minuciosos extraídos com alter ego de Marx, de Friedrich Engels, "Princípios do Comunismo", que se tornou a base para elaboração do bem conhecido "Manifesto do Partido Comunista" - até ao terror político e criação de Campos de concentração" (lugares especiais sob guarda"). O objetivo de todas essas ações é denominado com muita clareza: "Concentrar nas mãos do Estado todo capital, toda a agricultura, toda a indústria, todos os transportes e todas as trocas." E essa concentração é o totalitarismo em sua forma concluída. Portanto os marxistas russos foram, neste sentido discípulos fiéis e coerentes de Marx e Engels.

Eram eles alunos também de outras questões. Engels amplamente utilizava a concepção de nações contarrevolucionárias. Editada por Marx "New Rheinische Zeituyng" ele escreveu: "Entre todas as nações grandes e pequenas da Áustria, somente três eram portadoras de progresso, ativamente influenciavam na história e até agora conservaram a vitalidade: são os alemães, poloneses e hungaros. Por isso agora eles são revolucionários. A todas as outras grandes e pequenads nacionalidades e povos pertence, no próximo futuro, morrer na tempestade da revolução mundial. Por isso eles agora são contrarrevolucionários".

Então não eram apenas burgueses que deviam desaparecer no turbilhão revolucionário...

Em outras palavras, a ideologia totalitária do comunismo já nos seus primórdios incluía o terror como atributo social contra classes hostis, e terror étnico contra nações contrarrevolucionárias. Estes componentes no liame dos bolcheviques os levaram a um estado de perfeição e incorporação na prática social em todo o território controlado. E, será possível o terror em massa, assassinatos sem julgamento e confisco das propriedades (desde fábricas até calças e galochas) de dezenas de milhões de pessoas, além de aproveitar e inflamar os institnos mais brutais de amplas massas? Além da conversão dos "expropriadores"os quais, talvez, iniciaram suas ações com pensamentos ideológicos) em ladrões banais, que entregaram sua mente, honra e consciência para plena disposição do comitê central do partido.

O curso dos acontecimentos históricos brindou os experimentadores sociais, ajudando-os no principal - na alteração da natureza do homem massa.

Centenário da Multidão
Quando Karl Marx escrevia sobre as ações dos proletários de todos os países e sua união, ele pensava com categoria especulativa hegeliana. No entanto, no século XX o coletivo social e o sujeito nacional torna-se uma realidade empírica. A informação necessária para sua atividade vivencial, começou circular "dentro" dele com auxílio de meios técnicos, praticamente instantaneamente. Espalhadas no espaço as massas humanas começaram operar em sincronia no tempo, relacionava-se isso com a ofensiva no front, manifestações de partidos políticos de oposição, auditório engolindo espetáculos "diante do microfone" com a participação de famosos atores ou produtivos ciclos das cadeias de produção. Não foi casualmente que na noite de 24 para 25.10.1917 Vladimir Ulianov Lenin exigia dos participantes da reviravolta primeiramente dominar "correios, telégrafos, telefone" e a mais poderosa na Rússia rádio estação de Tsarskoye Selo. Sem esses recursos (de cujos valores não tinham consciência nem os democratas nem conservadores) a potência total do governo seria impossível. Como a propaganda contínua na qual deveria apoiar-se este governo mediante domínio simultâneo de influência ideológica de qualquer número de massas (precisava apenas estender as linhas telegráficas à região desejada e deixar lá as instalações, o que fizeram na URSS um pouco mais tarde colocando nas ruas e apartamentos "pratos" reprodutores, de cujo som esconder-se era impossível.

Complexos gigantes industriais e megalópoles, onde se concentravam milhões de pessoas que viviam no mesmo rítmo, contribuíram aos processos de massificação e unificação do meio não apenas dos funcionários, como do gerenciamento.

A Primeira Guerra Mundial que começou em 1914, assinalou prejuízo de vida individual, devido à criação e introdução à ação de modos de destruição em massa, surgimento de onipotentes órgãos políticos de repressão e dos meios de comunicação facilmente usados como meios de propaganda para massas. Desmoronaram os tabus culturais presentes até então para autodefesa de ações humanas, normas morais, percepções sobre o valor de vida, dos outros e sua. Significação, parece, adquiriram somente ações coletivas de classe e nacionais, unidas com auxílio de comunicações e multiplicados pela técnica. Renúncia de próprias aspirações, seus bloqueios, afastamento ao subconsciente para "dissolver-se" na entidade coletiva, tornaram-se normas sócio-culturais para muitas nações, que por várias razões encontraram-se no limite da catástrofe nacional. Impossibilidade de ser a própria pessoa na situação de turbolência total conduziu à sacramental "fuga da realidade" (Erich Fromm). Real tornou-se apenas o que se associava com o curso de ações da "grande entidade coletiva", que no nível empírico sobressaía com o aspecto de maiores ou menores multidões.

E então, a sua ideologia Lenin, Trotsky e Stalin (e mais tarde os socialistas antimarxistas da espécie de Mussolini e Hitler com Goebbels sustentaram recomendações práticas para manipulação de multidões traçadas pelo pensador francês Gustave Le Bon. Seu livro "Psicologia de Nações e Massas", sublinhado e com cantos de páginas dobradas, encontrava-se sobre as mesas de todos os líderes totalitários acima, servindo-lhes um roteiro peculiar para o futuro.

Interessante. Le Bon foi um adversário ferrenho do socialismo, em qualquer de sua variedade, mas sem ele as experiências totalitárias socialistas, provavelmentee seriam improváveis de sucesso.

Marx, realizado segundo Le Bon Explorando o fenômeno da multidão, Le Bon concluiu que, sob determinadas condições o conjunto de indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, profissão ou gênero recebe novas qualidades, substancialmente diferentes daquelas que caracterizam os participantes individuais desta reunião. "A personalidade consciente desaparece, sendo que os sentimentos e idéias de todas as unidades, que compõem o todo da multidão, obtem uma direção. Forma-se uma alma coletiva, que tem, naturalmente, caráter temporário, porém determinadas características". O que, de fato, é necessário àqueles que buscam mudar o mundo segundo seus interesses.

"Principais propriedades da multidão: assassinato (impunidade), contágio (difusão de idéias), sugestibilidade (você pode até ser obrigado ver o que não existe), desejo de implementar suas idéias, imediatamente, à vida. A psicologia da multidão parece psicologia de selvagens, mulheres e crianças: impulsividadee, irritabilidade, incapacidade de raciocínio, ausência de reflexão crítica, sensibilidade exagerada. O seu comportamento é instável, porquanto reage a impulsos. Estão ausentes as dúvidas..."

E, ainda algumas conclusões de Le Bon, distinguidos por Lênin e Stalin:

"O indivíduo na multidão acumula, somente graças à quantidade, noção de sua força maior, e esta consciência lhe permite a possibilidade de entregar-se a instintos, aos quais nunca daria liberdade quando age individualmente. Na multidão ele é menos inclinado a domar esses instintos, porque a multidão é anônima e não é responsável por nada. O sentimento da responsabilidade, que sempre restringe os indivíduos isolados, desaparece completamente na multidão."

" O indivíduo, depois de passar algumas horas entre a multidão, ou sob a influência de correntes que emanam dela, ou por qualquer outro motivo não conhecido exatamente, vem rapidamentee a tal estado que lembra muito um sujeito hipnotizado. Essa entidade em consequência da paralisia de sua consciente vida cerebral torna-se escravo de atividade inconsciente de sua espinha dorsal, cujo hipnotizador dirige de acordo com suas preferências. A personalidade conscientee no hipnotizado desaparece totalmentee, assim como a vontade e a inteligência, e todos os sentimentos e pensamentos são dirigidas pela vontade do hipnotizador".

Tornando-se parte de uma multidão organizada, a pessoa desce diversas posições na escada da civilização. Isolada, ela, possivelmente, continuaria culta, educada; na multidão torna-se bárbara, age por instinto. Ela apresenta tendências para tirania, violência, fúria, mas também o entusiasmo e o heroísmo, inerentes ao homem primitivo, semelhança com a qual reforça-se pelo fato de que na multidão, ela, extremamente fácil submete-se a palavras e imaginações que não teriam nela, isolada, nenhuma influência, e executa ações que claramente contrariam seus interesses e hábitos. Indivíduo na multidão - é um grão de areia entre incontáveis outros grãos, levantados e levados pelo vento.

A história do século XX, aos nossos olhos, demonstrou a validade dessas conclusões.

Certamente, a multidão (e em habilidoso uso de comunicação e quebra de tabus sociais e culturais em consequências de grandiosos cataclismas, nações inteiras transformam-se no sistema de multidões capazes não somente para ações amorais e destrutivas, mas também heróicas e nobres. Mas as últimas não dependem tanto da disposição interna da multidão, como de uma hábil manipulação dela. Afinal, segundo Le Bon, "o juizo da multidão sempre lhe é imposto e nunca são resultado de ampla discussão." E, visto que "sejam quais forem as idéias impostas à multidão, elas podem se tornar dominantes apenas sob as condições de forma o mais categorica e o mais simples" porque "os crimes da multidão são sempre provocados por poderosas sugestões. E os indivíduoss, que participaram de suas realizações, estão convencidos que apenas cumpriram com sua obrigação", e inicialmente prometida pelos líderes como resultado disto "a grande vitória, grande milagre, grande esperança", então é claro, Lenin, Trotsky, Bukharin ou Stalin eram a priori muito mais inteligentes e próximos com as massas no pós-imperial território nos anos 1917-1921, que quaisquer indolentes intelectuais ou ilustrados generais.

Continuando, o sistema stalinista de terror e propaganda combinados, acrescentava todos os esforços, para que as multidões não se tornassem nações mas, manipulados pelo governo, indivíduos - indivíduos auto-suficientes. É claro que Marx, com seus alvos iniciais (com todas as suas contradições e esquisitices) e principalmente enredos parlamentares, foi empurrado para trigésimo plano, e dominantes, afinal de contas, prevaleceram os slogans tradicionaiis dos "Centurias Negras" dos tempos do Império Russo, mal veladas com bandeiras vermelhas. E o que é interessantee, o que não inclui Le Bon: a permanência da população da URSS em constante proximidade vivencial conduziu a que novas gerações trouxessem inatas as piores características de "pessoas da multidão".

O que teve influência negativa quando apareceu a possibilidade de liberdade.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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