sábado, 13 de outubro de 2012

RUSSIA APOSTA NO MERCADO PACÍFICO-ASIÁTICO

Rússia volta o rosto para Ásia
Dzerkalo Tyzhnia (Espelho da Semana), 14.09.2012
Oleksii Koval

APEC 2012

A cúpula da Ásia-Pacífico de Cooperação Econômica (APEC), que terminou em Vladivostok em 9 de setembro, propôs algumas idéias interessantes de desenvolvimento da cooperação entre países do enorme espaço, localizado às margens do Oceano Pacífico. Esta organização fundada apenas em 1989 para estimular o comércio e investimentos mútuos, tornou-se hoje uma plataforma atraente para troca de pontos de vista sobre questões prementes de desenvolvimento global e regional. E nas condições atuais da crise global a região Ásia-Pacífico permanece como uma das regiões do planeta, que desenvolve-se mais dinamicamente. Seu crescimento supera a média mundial e é relativamente estável, apesar da redução no consumo global.

Segundo projeções do FMI, até 2013 a economia dos países-membros da APEC vai crescer menos de 4% ao ano, e sua participação no total do PIB mundial atingiu 53%. Com o aprofundamento da crise na Europa é exatamente à APEC que migram gradualmente os fluxos comerciais globais: já são 44% de volumes globais, e crescem também os investimentos diretos cujo montante em 2011 foi de 45% do total.

A APEC inclui 21 membros, na sua maioria entre os Estados que são "lavados" pelo Oceano Pacífico: EUA - Japão - China - Rússia - Peru - Taiwan - Coréia do Sul - Hong Kong - Cingapura - Vietnã - Malásia - Tailândia - Indonésia - Brunei - Filipinas - Austrália - Nova Zelândia - Papua ou Nova Guiné - Canadá - México - Chile.

É por isso (mas não somente) que ao encontro em Vladivostok havia grande atenção. A Rússia preside a APEC em 2012 sob o lema "Integração - com a meta de desenvolvimento e inovação - no interesse da prosperidade". Particularmente, ao presidente russo Vladimir Putin, o forum onde participaram duas dezenas de líderes mundiais, tornou-se a maior tribuna representativa para a proclamação de sua doutrina - a criação da União Econômica da Eurásia. De acordo com sua confissão, ele terá funções supranacionais. Ele representa no forum não somente a si, mas também os líderes da Bielorússia e Cazaquistão, totalmente solidários com ele nestas abordagens. Ainda, de acordo com o presidente russo, alguns países da APEC manifestaram "interesse direto de trabalho" na integração e idéias do Kremlin, e até mesmo a intenção de formar um relacionamento especial no âmbito de zona de livre comércio com a União Aduaneira, Único Espaço Econômico, Zona de Livre Comércio (FTA), Comunidade dos Estados Independentes (CIS). Além disso, após a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), Rússia vê a si mesma como uma ponte entre a Ásia e a Europa e está pronta, antes de tudo, no sentido de transporte ser uma ligação entre eles.

O presidente russo considera indispensável coordenar os esforços integracionais tanto no eurasiano, como no espaço Pacífico-Asiático.
Lembramos que a APEC desde 2006 desenvolve a idéia de zona de livre comércio para toda a região Ásia-Pacífico (FTAAP) que nasceu devido ao fato de que as negociações da OMC para liberalizar o comércio entre os mais de cento e cincoenta países membros entraram em impasse. APEC determinou para si mesma, naquela ocasião, uma tarefa ambiciosa - não apenas criar uma zona de livre comércio, mas também resolver contradições e inconsistências que se acumularam ao longo dos anos entre os países da região em cerca de quase 200 acordos bilaterais sobre livre comércio. Hoje, é claro, APEC não se tornou comunidade integrada. Na última cimeira da APEC sobre a idéia da FTAAP conversaram casualmente e, principalmentee, os representantes chineses, para quem esta idéia, obviamente, é atual. No entanto, China está mostrando muito mais interessee em cooperar no âmbito de reuniões com países do Sudeste e Leste da Ásia, sócios da ASEAN e SCO (São membros da SCO: China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. Da ASEAN, nações do Sudeste Asiático: Filipinas, Malásia, Indonésia, Cingapura, Tailândia, Brunei, Camboja, Laos, Mianmar e Vietnã) porque é aí que a sua força econômica proporciona benefícios adicionais.
Mesmo durante as negociações, no âmbito da OMC, os países da APEC apresentam-se a partir das perspectivas diferentes. Além disso não pode ser esquecido, que países da UE e muitos outros membros influentes da OMC, particularmente Brasil e Índia vêem na criação de uma união regional, ameaça aos seus interesses econômicos. É óbvio que os países fora deste núcleo de integração vão expor-se à discriminação no comércio.
Também não se justifica a esperança de que este acordo dentro da APEC dará possibilidades para remoção de alguns conflitos globais e reinicio das negociações no âmbito da OMC. Talvez o único resultado positivo neste plano foi que, anteriormente ao encontro em Vladivostok os países concordaram em reduzir tarifas de mais de 50 produtos. Este passo está associado a uma preocupação comum dos maiores países com a questão de segurança alimentar, deficit de alimentos de qualidade, cujo cultivo cresceu no último ano em vários países da Ásia, particularmente na China.
Não se concretizaram as esperanças dos EUA, que exatamente através do forum da APEC os americanos poderão reforçar sua posição econômica na Ásia, conseguir acesso aos mercados dos países em desenvolvimento, e, em primeiro lugar, o chinês. Em Vladivostok, para a cimeira da APEC, os EUA representava a esposa do ex-presidente americano a secretária de Estado, Hillary Clinton.
À Rússia, H.Clinton veio para propor a sua própria versão de integração - Transoceânica Parceria (Trans-Pacific Partnership, TPP). Uma vez que neste termo emerge claramente a semelhança com a "parceria transatlântica", os observadores imediatamente avaliaram este passo como uma tentativa de complementar a expansão da presença diplomática e militar da presença de EUA na Ásia com componente econômico. E, mesmo a senhora Clinton em seu discurso no fórum iniciou com as palavras: "Estados Unidos - é nação no Oceano Pacífico, que tem não somente poder diplomático e militar, mas também econômico". Esse poder ela tentou demonstrar. A idéia de "retorno econômico" para Ásia, segundo as palavras de Clinton, é criar "o pacto comercial" em que o acordo de alguns membros seria obrigatório para todos - o que daria a possibilidade de quebrar barreiras protecionistas. Até o momento, a este "pacto" Washington conseguiu atrair oito países da região - de Austrália e Chile a Vietnã e Brunei. No entanto, nesta abordagem, China vê apenas conveniência às empresas dos EUA na expansão de canais de penetração no mercado chinês e considerou esta idéia como inaceitável. Mesmo parceiro de longa data dos EUA - Canadá (que prometeu iniciar as negociações este ano) e Nova Zelândia (que já participa do pacto) - tem muitas observações à iniciativa americana.
Os líderes da APEC continuamente enfatizam o caráter exclusivamentee econômico de suas reuniões. No entanto aqui também não conseguiram desviar-se da política. Em Vladivostok, as principais consultas políticas foram realizadas nos corredores do forum e realizavam-se a portas fechadas em reuniões bilateraiss.
Sim, EUA não apenas tentaram pressionar China quanto a situação no Mar da China Meridional, mas ativamente demonstraram fidelidade com a Rússia. Hilary Clinton declarou, que a adesão da Rússia à OMC vai ajudar a aumentar o comércio bilateral em duas ou três vezes. No entanto, este Congresso ainda deve cancelar a emenda Jackson-Vanik referente à Rússia. EUA e Rússia concordaram em respeitar a desmilitarização no Ártico. EUA estão prontos a reconhecer o papel-chave da Rússia na Ásia e incentivar de vários modos a sua atenção para a região do Extremo Oriente e da expansão dos investimentos privados.
A cúpula APEC para normalizar as relações com a Rússia, aproveitou também o Japão que combinou uma possível compra de gás liquefeito e a possibilidade de uma nova rodada de negociações sobre a questão das ilhas Curilas.
No entanto, a mídia russa menciona, que as centenas de bilhões de rublos gastos pela Rússia, nos preparativos para cúpula (1 USD = 31,038RUB) - somente uma gota no oceano do que realmente é necessário para revitalização da região do Extremo Oriente. De todas as grandes potências regionais a Rússia continua a ser mais fraca na Ásia-Pacífico. Mesmo Vladimir Putin reconheceu que economicamente o país ainda permanece ligado à Europa, e seu "retorno a Ásia" pelo exemplo dos EUA ou, melhor dizendo, "Viragem" do rosto da Rússia à Ásia acontece lentamente. Em geral, isto pode ser apenas temporário. Tanto em Moscou como Vladivostok, há muitas pessoas que acreditam, que após a cimeira da APEC Kremlin retornará à prática habitual de negligenciar os problemas do Extremo Oriente.
Mas, mesmo que isso não aconteça, à Rússia na Ásia-Pacífico será oferecida uma escolha (possivelmente, em Vladivostok isto Hillary Clinton já fez): apoiar um dos dois maiores estados da atualidade - os EUA ou a China.
Obviamente, os chineses já expressaram sua posição às autoridades russas antes dos americanos. Moscou, no final de agosto visitou o membro do Conselho de Estado da República Popular da China Dai Bing para participar da sétima rodada de consultas sino-russas sobre segurança estratégica. O político chinês disse, que os países devem, necessariamente, "cultivar o apoio político mútuo em questões tão fundamentais como a defesa da soberania, segurança e desenvolvimento". Esta visita passou quase despercebida, e, surpreendentemente, nem mesmo houve informações sobre o encontro de Dai Bingo com Putin.
Mas, no calor desta visita, na mídia estatal apareceu um editorial da redação com o título característico: "As quentes relações sino-soviéticas azedaram certa vez". Tratava-se de acontecimentos de meio século de antiguidade. Mas o autor observa que Pequim entende os motivos que levam Vladimir Putin a construir relações com EUA e OTAN. No entanto a aliança sino-russa, no início dos anos 50 estava intacta até que os interesses fundamentais dos dois países simultaneamente foram submetidas à ameaça de uma terceira força. Essa alusão dá a entender, bem claramente a Putin, que a "parceria estratégica" com a Rússia, China não vai desenvolver sem nenhum objetivo. Pequim em seu artigo no "Diário do Povo" por enquanto apenas advertiu Moscou sobre os erros do passado e chamou-o para demonstrar a "sabedoria política e abordagem pragmática" na base inconstante das situações internacionais.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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