sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ASSASSINATO DA CIÊNCIA

Tuzhden (Semana), 23.12.2011
Serhii Hrabovskyu


O orçamento para 2012 estabelece o record de baixos investimentos para ciência.

Durante o exame do projeto do Orçamento do Estado para 2012 em primeira leitura a previsão do financiamento fundamental é no valor de quase 2,5 bilhões de UAH (USD 312.500.000). O Comitê Parlamentar de Educação e Ciências fez uma manifestação pedindo aumentar o financiamento da Academia Nacional de Ciências da Ukraina onde estão concentradas quase todas as pesquisas básicas, ao menos para três bilhões. O sindicato dos cientistas exigiu não aumentar seus salários, mas respeitar a lei - porque a lei sobre a ciência e atividades científico-tecnológicos, na Ukraina, prevê o financiamento público da ciência (básica e aplicada cumulativamente), no valor de 1,7% do PIB. Isto deveria ser de 20 bilhões de UAH (USD 2,5 bilhões), mas estes dois setores receberam apenas, aproximadamente, 7 bilhões de UAH (USD 875 milhões).

Não se pode dizer que o Gabinete de Ministros, chefiado pelo sócio-correspondente do NANU (Academia Nacional de Ciências da Ukraina) Azarov (atual primeiro-ministro) não ouviu os cientistas: o governo respondeu prontamente às suas demandas e reduziu o financiamento da ciência básica em 58 milhões de UAH (USD 7.250.000). Para que, na próxima vez os professores não mais se manifestassem e não estragassem o humor de quem distribui os recursos financeiros.

É bom recordar, que ainda em 1990 os países da UE, de acordo com estratégia de Lisboa comprometeram-se dedicar à ciência não menos de 2% do PIB, mais tarde aumentando para 3%. Apesar das crises, a obrigação - com exceção talvez da Grécia - é realizada. O conceito de "científico - técnico progresso", "normas científicas de produção", "altas tecnológias", "suporte científico à produção" há muito tempo são caracterizados não apenas em textos especiais, mas também em atos políticos dos governos e presidentes de muitos países.

Na Ukraina, os gastos do orçamento para pesquisa e desenvolvimento de 2,3% do PIB (União Soviética - 1990) caiu para 0,34% do PIB (crise de 1998), em seguida, um ligeiro aumento atingindo quase 0,5% do PIB - e agora afundou para 0,31 - uma espécie de "record" para o vigésimo aniversário da independência.

Consequentemente diminuiu o número de cientistas. Em 1990, nas organizações científicas da Ukraina trabalhavam 494 mil pessoas. No início de 2000 o seu número caiu para 180 mil. Hoje restam 150 mil. De acordo com o pensamento da maioria dos estudiosos, a redução em duas décadas da quantidade dos estudiosos para um terço já colocou no limiar da morte uma grande fila de escolas de pesquisa. Talvez eles eram empregados inúteis? Nem um pouco. Apenas durante o período do presidente Kuchma deixaram Ukraina mais de quatro mil doutores em ciências. O efeito do trabalho desses estudiosos no Ocidente agora ultrapassa cinco bilhões de dólares.

O processo continua. Especialmente quando se trata de investigadores jovens. O número de doutorandos e pós-graduados que deixaram Ukraina, há muito tempo já se conta em dezenas de milhares de pessoas. Dos que ficaram, a idade média dos doutores da Academia Nacional de Ciências ultrapassa 60 anos, a idade dos candidatos - 50 anos. Jovens cientistas após a defesa de suas teses, abandonam a ciência e entram nos negócios, ou vão para o estrangeiro, para continuar lá suas pesquisas. E a questão não são apenas os salários (embora os dois mil e quinhentos UAH por mês para um pesquisador sênior - é um dinheiro "espetacular"); a questão é que as instalações e materiais novos são praticamente ausentes para pesquisas fundamentais, não há dinheiro suficiente nem para o pagamento da energia elétrica e aquecimento nos institutos de pesquisa.

Enquanto isso na Ukraina, mais de 60% dos produtos industriais de consumo elaboram-se com dispêndio de materias primas por ramos onde não há nenhuma colaboração científica. E não é porque os cientistas cometeram erros perante os fabricantes, mas porque, o dinheiro os oligarcas precisam para outra finalidade.

Mas a questão não está somente na implantação de conquistas científico-tecnológicas na produção, mas também no papel geral da ciência no mundo atual - papel que frequentemente é muito difícil medir em dólares ou UAH, mas que está claramente incorporado no fluxo dos acontecimentos históricos. Neste contexto, não é supérfluo recordar, que a Academia Nacional de Ciências da Ukraina realmente é coetânea do novo Estado ukrainiano. A Academia, usando linguagem filosófica, apresenta-se como uma das invariantes deste Estado (sob qualquer forma, mesmo soviética), desde 1918. Ademais a formação histórica da comunidade ukrainiana nacional durante todo este período persistiu com a participação da Academia de Ciências, e num total sentido, a nação moderna ukrainiana (novamente, com todos os seus defeitos e problemas, mas verdadeira força do desenvolvimento histórico e bases para a legitimidade do Estado) é o resultado de várias gerações de cientistas ukrainianos como moderadores do pensamento comunitário.

No entanto, talvez o Estado simplesmente não tem dinheiro? Mas não. Em geral, em relação ao ano 2011 as despesas para manutenção da Procuradoria Geral cresceram em 156% - as tropas internas em 137%. E mais: da primeira à segunda leitura do orçamento simultaneamente com uma redução das despesas com a ciência cresceram os custos para a manutenção do secretariado do Gabinete de Ministros, e para abastecimento das atividades da presidência acrescentaram ainda 7,5 milhões de UAH (USD 937.500). Substancialmente aumentaram os meios alocados para as necessidades do Ministério do Interior...

No momento atual o nível do desenvolvimento da ciência não caracteriza o grau de civilização da nação e Estado em último lugar. A ciência é um dos elementos estratégicos de segurança de cada Estado nacional. Sem uma ciência séria e relacionada a ela alta tecnologia (incluindo também a social) em vão esperar a perspectiva de adesão à União Européia. E simplesmente dizendo - privando a nação da ciência, a ela abre-se caminho direto para transformá-la em gado, matando-a espiritualmente.

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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