sexta-feira, 4 de março de 2011

O HOLOCAUSTO "ESQUECIDO"

O relato abaixo é a transcrição “ipsis literes” do texto constante de um opúsculo que, em 23/11/1983, foi ofertado a um dos membros do farol da democracia representativa, pelo autor: o padre ucraniano Valdemiro Haneiko, então, vigário da paróquia de S. João Batista, da igreja ortodoxa ucraniana, situada na cidade de Apucarana - Paraná.
A divulgação nesta nossa página, das palavras de uma pessoa que sentiu na pele as atrocidades perpetradas pelos Bolcheviques na sua terra natal, se constitui num irrefutável testemunho de que, certamente, se reveste da insuspeição que valida as narrativas sérias e isentas de fatos históricos.
Além da reposição de ocorrências históricas que vêm sendo falseadas por seguidores da doutrina que alicerçou o genocídio, ocorrido na Ucrânia, aqui cabe um alerta à brava gente brasileira, descendente de patriotas que, por várias vezes, repudiaram àqueles que a imagem e semelhança dos que molestaram os ucranianos, continuam no mesmo intento de agrilhoar o nosso povo que, anteriormente, já mostrou a sua capacidade de salvar a si mesmo e, agora, voltando às ruas, clama por mais um basta à atuação dos que não desistem de nos impingir uma doutrina fraudulenta, cuja práxis é amoral e desumana.
Segue-se o relato do padre Valdemiro Haneiko:

CINQUENTENÁRIO DA FOME NA UCRÂNIA (1931-1933)
Pe. Valdemiro Haneiko
O ano de 1933 foi fatídico para os destinos da Ucrânia. Uma fome terrível artificialmente planejada e executada pelo regime russo para subjugar de uma vez para sempre a Ucrânia - ciosa de sua liberdade e da intangibilidade de suas riquezas culturais e materiais.
Amante de suas tradições e costumes milenares, inconformada com as pretensões dos soviéticos, resistiu heroicamente numa luta feroz e sem tréguas na qual tombaram centenas de milhares de seus filhos patriotas e heróicos.
Para abastecer a sua máquina bélica com fins imperialistas, os russos atingiram os extremos de selvageria, submetendo a Ucrânia e reduzindo os camponeses ao regime da escravidão, sem direito ao pão que produziam para a sua sobrevivência. Os métodos então adotados pelos russos não se explicam, nem se desculpam no auge da civilização humana. Foi uma luta pelo pão para sobreviver por parte dos ucranianos e por parte dos russos para fortalecer a máquina imperialista para o domínio do mundo, apoiada nas riquezas inesgotáveis da Ucrânia.
O ano de 1983 é o cinqüentenário (em 2011: 78 anos) da Fome imposta ao povo ucraniano pelo imperialismo russo.
Vamos recordar neste ano aqueles dias catastróficos da Ucrânia, num mar de sangue e de terror, quando sete milhões de ucranianos tombaram na luta pela própria subsistência pelas armas e pela planejada fome para quebrar a resistência patriótica dos que defendiam o seu solo sagrado.
A luta entre as forças para conservar a vida e fugir da morte, na Ucrânia, prolongou-se por diversas etapas, porque o povo ucraniano ama sua terra. O povo se sente intimamente ligado à terra que oferece grandes riquezas e capacidade de frutificar. Conhece as verdades eternas, conhece seu Criador, conhece o espiritual, como conhece o material. Stalin foi sincero quando afirmou, durante a guerra, que o camponês da Ucrânia lhe dava mais trabalho do que Hitler. As imensas perdas da Ucrânia em todos os setores que as lutas da Fome Organizada pela Rússia provocaram, dão testemunho do horrendo e mortal crime perpetrado pelos russos imperialistas contra os camponeses ucranianos.
Quando a história do séc. XXI examinar as causas da derrota do imperialismo comunista há de constatar que a resistência ucraniana foi um dos principais fatores. O mundo conheceu a terrível fome que assolou a Ucrânia, organizada artificialmente pela política soviética, entretanto, até o presente, não se analisou o porquê da fome, nem como um acontecimento isolado, a não ser em estrita relação com os sucessos políticos da URSS desse tempo.
Não pretendemos cobrir completamente os complexos acontecimentos que se relacionam com a grande carestia e fome de 1931 e 33. Desejamos apenas apresentar um esboço maior que demonstre a sua origem e recorde as mais precisas verdades fundamentadas em testemunhos idôneos dos fatores relativos à fome na Ucrânia.
A UCRÂNIA
Antes de entrarmos no problema da fome, pretendemos dar outras informações úteis e necessárias para um melhor conhecimento desse país como nação.
Qual o lugar que a Ucrânia ocupa no mundo? Como seus recursos naturais, sua posição geográfica, seu solo, seu clima e suas riquezas minerais influenciaram decisivamente sobre a sua história?
Tudo isso, sem dúvida, influiu no desenvolvimento econômico e teve uma influência direta sobre a sua história política.
A Ucrânia situada na parte Sul da Europa Oriental, ao Norte do Mar Negro, é a sua base geográfica, política e econômica. Os rios Dniepr, Dom, Dniestr, Buh são importantes meios de comunicação e linhas vitais da economia nacional, como também fontes de energia hidrelétrica. Um solo excelente, considerado como o mais fértil do mundo. O húmus negro e profundo é dos mais produtivos do universo. Excepcional temperatura, bom clima, luz, calor e precipitações atmosféricas regulares favorecem o cultivo de todas as plantas típicas da zona temperada. Antes da II Guerra Mundial, a Ucrânia era cognominada de “Celeiro da Europa”. A agricultura foi sempre a sua riqueza nacional. As grandes jazidas de carvão, os depósitos de ferro, de petróleo, manganês, gás, mercúrio, grafite, mármore, porcelana, caolin, sais - são recursos que oferecem ilimitados horizontes para um desenvolvimento econômico do País. A combinação do solo, clima e uma população ativa constitui um complexo exclusivo, natural e ao mesmo tempo econômico. Nesses termos, a Ucrânia seria uma nação completamente independente territorial e economicamente, pois o desenvolvimento harmonioso de suas indústrias poderia satisfazer todas as necessidades de sua população plenamente.
Entretanto, como a Ucrânia é uma imensa planície, com ausência de barreiras naturais limítrofes, sempre favoreceram a invasão de seus vizinhos que cobiçavam as suas terras férteis e daí as lutas contínuas contra os mesmos na defesa do direito de viver em estado próprio, lutas que nem sempre foram vitoriosas. Uma luta de mil anos que mantinha a existência nacional alternada contra as hordas tártaras sob a direção mongólica do séc. XIII ou contra os turcos, polacos, russos. A última e mais sangrenta guerra para dominar a Ucrânia foi a da Alemanha nazista e da Rússia Soviética. Nessa, a Ucrânia foi derrotada e anexada pela União Soviética. E o povo ucraniano foi escravizado e as suas terras ocupadas.
A UCRANIA DENTRO DO SISTEMA POLÍTICO E ECONÔMICO SOVIETICO
A queda do tzarismo na Rússia em 1917 e a tomada do poder pelos bolcheviques em outubro do mesmo ano, determinou o curso dos acontecimentos numa repercussão fatal para a Ucrânia. O conflito armado entre a República Nacional Ucraniana, constituída em 1917 e a Rússia bolchevista continuou desde o ano de 1918 até 1921.
Nesse período de 1918 até a primavera de 1921, surgiu uma ordem específica econômica que mais tarde se denominou de “Guerra Comunista”. Foi introduzido o “monopólio do pão”. O comércio foi proibido. Toda a indústria e pequenos negócios foram nacionalizados e sua administração entregue aos soviéticos. Os Bancos foram também nacionalizados. Foi estabelecida uma economia que funcionava sem dinheiro. Com o desaparecimento dos Bancos, desapareceram também os impostos pagos com dinheiro. O Estado exigia serviços sem retribuição. O movimento cooperativista foi extinto e o comércio doméstico sofreu uma transformação completa. Foi introduzido o trabalho compulsório. Os operários e os empregados perderam o direito de mudar do ofício por iniciativa própria.
A "Guerra Comunista" determinou o fechamento dos mercados e de toda sorte de operações comerciais, eliminando o estímulo e pretendendo um maior rendimento no campo de trabalho ao reduzir as condições econômicas a um estado primitivo e adquirindo as instituições governamentais o domínio completo. Essa era a característica da "guerra Comunista" - dominar tudo. Cabe destacar que a luta da Ucrânia para sustentar a sua independência nacional foi cruenta.
O conflito deflagrado entre a Ucrânia e a Rússia Soviética entre os anos de 1917 e 20 foi uma guerra para obter o domínio político e econômico da Ucrânia. Por isso a "guerra Comunista" se apresentava com uma política armada de roubo e saque. O primordial da luta foi conseguir o pão ucraniano. Já dizia Lenin: "Não sobreviveremos sem o pão da Ucrânia" e a luta pelo socialismo era a luta pelo pão. "E se editavam decretos para obrigar os camponeses a entregar todas as colheitas, podendo reter uma mínima quantidade, insuficiente para a manutenção da família”. Os camponeses se negavam a entregar as colheitas sem o pagamento. Então forças armadas entraram nos campos da lavoura para saquear tudo quanto pudessem, o trigo para o governo e o resto para eles mesmos. Só depois de duras e sangrentas batalhas o Exército Vermelho abriu o caminho para o pão, porque conquistou a Ucrânia. Depois se vangloriavam de que a ”Ucrânia é nossa, uma Ucrânia cheia de riquezas e do pão que é nosso". "Temos quatro centros militares de abastecimento". "Temos uma massa enorme de trabalhadores". E os olhos dos lavradores russos estavam fixos na Ucrânia, aguardando a ordem para se apoderarem das propriedades ucranianas, onde, ao se estabelecerem mais tarde, trouxeram os maiores horrores para as aldeias e para o povo ucraniano.
Enfim o povo ucraniano foi forçado e entregar não só o trigo, mas também a carne, aves, manteiga, frutas, mel, numa palavra todos os víveres. A Ucrânia estava reduzida a uma colônia de exploração econômica e qualquer manifestação cultural era considerada como contra revolucionária e sujeita à destruição. Foi proibida a circulação de jornais ucranianos, a imprensa foi confiscada e as escolas fechadas. Aqueles que falassem em ucraniano eram fuzilados como elementos perigosos ao regime. No solo soviético só o idioma russo é permitido, afirmavam os soviéticos.
Tudo isso revoltou profundamente a alma da nação ucraniana. Daí os levantes contra os soviéticos, segundo declarou o representante de Moscou na Ucrânia, Raskovsky. A revolta contra a Rússia continha os slogans da independência da Ucrânia sob o mando comunista e ucraniano esquerdista social democrático. Nesse período mais de um milhão de insurgentes tomaram as armas contra os russos, conseguindo liquidar mais de 40 mil soldados do Exército Vermelho e membros das agências coletivas de trigo.
A política econômica desse tempo trouxe uma completa desintegração da economia russa. Diante do roubo governamental das colheitas, as áreas do cultivo foram reduzidas ao mínimo necessário para prover a própria subsistência. Assim a colheita de 1920 foi 65% menor do que a do ano anterior. O mesmo fenômeno se deu em todas as outras atividades industriais. Nessa crise aguda desencadeada pelo próprio poder, a população padecia de carência de todo o essencial, como o pão, cereais, carne, açúcar, roupas, sapatos, sal, fósforo, sabão, querosene, combustíveis:
Numa inflação galopante a moeda caía numa velocidade catastrófica. Basta dizer que em 1921 as mercadorias aumentarem 7.918 vezes de preço. A população vivia semi-faminta. As casas das cidades e vilas, depois de nacionalizadas, não tinham dono. Ninguém se interessava pelas residências que aos poucos se deterioravam e ruíam. Os serviços públicos de água, luz, esgoto, instalações sanitárias eram péssimos. A crise econômica soviética provocou a fome de 1921.
Finalmente Moscou se deu conta de que para se apoderar da Ucrânia deveria conformar-se com as condições existentes no país. Foi mudado o sistema político também em relação à Ucrânia. Agora a conquista deveria ser feita por meios pacíficos, como uma nação igual às demais da União Soviética. Assim se formou como uma conquista a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922. Contudo Moscou considerava a Ucrânia como uma colônia de exploração e de saque. Essa política era mais traiçoeira, mais sutil: a Rússia Tzarista recusava admitir a existência de uma Ucrânia, mas a Rússia Comunista, tendo conquistado a Ucrânia pela força das armas e com a ajuda dos comunistas ucranianos, estabeleceu uma República Socialista Soviética da Ucrânia, que segundo a Constituição poderia exercer uma autoridade independente e poderia tornar-se independente da URSS.
Com o estabelecimento do governo ucraniano, o terror diminuiu e começou uma nova fase política favorável à Ucrânia. Muito se conseguiu num período relativamente curto. Toda a educação, mesmo superior, foi ucrainizada. A ciência ucraniana, a literatura e a arte tiveram grande êxito. Publicaram-se numerosas obras literárias ucranianas. As cidades ucranianas russificadas por séculos, eram reucrainizadas. A correspondência oficial foi ucrainizada. Nicolau Skrypnyk, Co¬missário da Educação, escrevia em 1927: "durante o período dessa revolução temos publicado mais livros ucranianos do que durante 130 anos de existência da literatura ucraniana”.
O vertiginoso desenvolvimento ucraniano em todos os setores das atividades chegou a assustar os políticos russos. E Volubiev chegou a afirmar que: "desde a revolução, a economia ucraniana cessou de ser um suplemento da economia russa: está agora, em termos iguais".
O progresso vertiginoso da Ucrânia molestava a Moscou, porque diante de seus olhos se realizava um movimento cultural que se convertia em uma outra política. Stalin afirmava: "que a luta por um movimento cultural da Ucrânia assumira proporções de uma luta geral contra Moscou, contra os russos em geral e contra a cultura russa na Ucrânia".
Em 1930 começa a repressão russa na Ucrânia. Foi criado um Tribunal que dava aos bolcheviques o direito de liquidarem com selvageria a muitos ucranianos dignos, expoentes no campo cultural: acadêmicos, professores, líderes. Os soviéticos condenavam em massa, sem julgamento: intelectuais, camponeses e operários. Stalin percebeu que a violência colonizadora agrícola na Ucrânia estava longe de submetê-la aos seus interesses imperialistas. Daí a sua decisão de dispersar as forças do renascimento ucraniano, a liquidação da política ucraniana a atemorizar todos os setores na nação.
Começou uma nova etapa de vida na Ucrânia: a coletivização compulsória da agricultura para desenvolver uma grande indústria mediante trabalho dos camponeses e assim aumentar a potência bélica soviética. Os camponeses se negavam a trabalhar nas granjas coletivas e em conseqüência a sua liquidação em massa ou a sua deportação para os campos de concentração de trabalhos forçados. Foram assim centenas de milhares e talvez, milhões de lavradores arrancados à força de suas propriedades. A coletivização forçada não produziu os resultados esperados. De ano em ano, as colheitas diminuíram. As ameaças soviéticas aumentavam. Essa situação crítica preconizava graves acontecimentos, na Ucrânia.
PLANEJAMENTO E PREPARAÇAO DA FOME
No início da coletivização obrigatória, os lavradores da Ucrânia tomaram uma atitude de decidida oposição contra o governo e sistematicamente se recusaram a acatar as suas ordens no setor agrícola. Uma crítica mordaz foi feita contra o governo da Ucrânia pelo representante do Politibüro de Moscou, denunciando as falhas na aplicação das economias agrícolas que não agradavam. Os camponeses forçados a entrar na coletivização, sabotavam as obras e se recusavam a trabalhar. Essa recusa era considerada como greve contra o governo, criando uma situação embaraçosa ao mesmo. Com as greves dos camponeses, os planos do governo foram profundamente afetados. Em conseqüência surgiram medidas severas contra os grevistas. Moscou decidiu usar meios mais violentos e cruéis para quebrar as greves. Ficou decidido reduzir à fome os camponeses e privá-los da propriedade individual. Para atingir a fome foram feitos inúmeros decretos nos fins de 1932 e nos primeiros meses de 1933. Decisões ativas e firmes contra os "pequenos burgueses" foram tomadas para combater as hesitações, desordens, falta de disciplina e atitude anti-social dos camponeses. Depois se decretou a proteção da propriedade socialista. A idéia máxima dessa propriedade socialista como propriedade comum que o governo afirmava ser sagrada e quem quer que atentasse contra ela deveria ser considerado inimigo comum, e, portanto, o governo devia se precaver contra o roubo e o furto. Esse decreto levantou uma onda de terror em todas as aldeias. Todos sofreram injustiças e perseguições com a aplicação de penas severas ao menor deslize. A finalidade dessa onda de terror era curvar os inconformados com a nova política imposta pelo governo soviético.
O verão de 1932 foi palco de uma cruel luta entre as autoridades e os camponeses pela posse do pão. O governo procurava se apoderar de todo alimento e os lavradores fizeram o possível para impedir. Foram então criadas brigadas armadas para o recolhimento de todos os víveres. Invadiram casa por casa, buscando alimentos escondidos nos forros, nos porões, nos colchões, nas paredes. Elas se distinguiram pelo espírito de destruição e crueldade extrema, chegando ao cúmulo de examinarem as fezes para saber que alimento os camponeses consumiam. A história do futuro há de admitir que em sua campanha contra os camponeses durante a primavera e verão de 1933, ao regime soviético se opôs a um povo unido em frente sólida, incluindo a todos desde os mais graduados até o último camponês mais pobre.
Em janeiro de 1933 os comunistas ucranianos foram acusados de não cumprir o plano da colheita de grãos. Foi então designado como chefe do governo ucraniano, Liubchenko, ambicioso e obediente, quando as resistências em certas regiões foram quebradas. Em curto espaço de tempo foram removidos 237 ucranianos de seus postos de secretários regionais; 249 do partido comunista como chefes de comitês e 158 dos comitês executivos. Além disso, foram enviados 10 (dez) mil homens para quebrar a oposição de resistência nas granjas coletivas.
Do partido comunista ucraniano houve apenas um homem que ousou abertamente se opor à política soviética - Skrypnyk que se colocou vigorosamente a favor de seus companheiros contra a espantosa injúria levada a efeito pela coletivização, pedindo que o pão produzido pelos camponeses deveria ser utilizado pelos mesmos para salvar a vida deles e somente o restante entregue a Moscou.
A destruição da Ucrânia e de seus intelectuais continuou sem interrupção.
Milhares de ucranianos, entre os maiores intelectuais foram condenados à morte ou enviados para as masmorras soviéticas. A situação era tal que os ucranianos não se atreviam usar o seu próprio idioma e de ler seus livros, porque era perigoso, ocasionando uma condenação criminal. A Ucrânia ficou assim reduzida a um campo de batalha após a luta: destruição, morte, miséria, fome, pobreza, desânimo e sem nenhuma perspectiva de um futuro melhor.
O governo soviético ao assumir o poder, seu maior objetivo era explorar o trabalho dos lavradores e se apoderar de suas colheitas. Um observador ocidental dizia: "A fome foi deliberadamente imposta como um instrumento da política nacional, como último meio de quebrar a resistência dos camponeses ao novo sistema pelo qual eram despojados do direito de ser donos de suas propriedades e granjas e obrigados a trabalhar sob as condições que o estado impunha e entregar tudo aquilo que ele exigia".
Fontes oficiosas soviéticas dão como resultado dos anos econômicos de 1932, e 33 nos dão provas exatas que a fome na Ucrânia foi deliberadamente organizada e executada por Moscou. O que mais se destaca e mais impressiona durante a fome na Ucrânia, foi de um lado, uma colossal colheita de grãos para alimentar e de outro lado, a falta de alimentos para aqueles que os produziram a custo de suor. Sem dúvida foi uma Fome Política, porque não foi resultado de nenhuma catástrofe natural ou de esgotamento de recursos da nação. O governo se dispôs a dar aos lavradores uma lição mediante o atroz e horrendo método da fome para forçá-los a trabalhar duramente nas granjas coletivas.
ORGANIZAÇAO DA CAMPANHA DA FOME
A campanha da colheita de grãos de 1932-33, com a criação de brigadas especiais para o confisco de toda a alimentação, motivou a fome em massa da população rural ucraniana. Um testemunho estrangeiro da fome nos seus começos, afirma que a Ucrânia estava absolutamente sem pão: uma população faminta. Somente os territórios russos não estavam afetados pela fome. No início de 1933 se vendiam cães e gatos, cuja carne era considerada urna verdadeira iguaria. A fome relaxava o moral, os homicídios e suicídios se sucediam constantemente. A degradação humana desceu ao nível dos animais. Comentava-se o horrível canibalismo, como a venda de carne humana. Havia numerosos casos de mães sacrificarem seus próprios filhos para matar a fome. Havia tantos cadáveres que as autoridades se sentiam impotentes para retirar da vista pública, cadáveres que se encontravam nas estradas, nas ruas e nas aldeias.
SUPRESSÃO DOS EFEITOS DA FOME E A CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DA ESCRAVIDÃO COLETIVA
Ao iniciar a fome e as mudanças demográficas, sobrevieram grandes repercussões políticas e econômicas que tiveram ressonância não só dentro da Ucrânia, mas em todo o território soviético. As autoridades soviéticas puderam constatar pessoalmente o significado político e as conseqüências demográficas da situação que era impossível esconder ante os olhos dos estados satélites e do resto do mundo. Resumindo, os êxitos alcançados na agricultura e na coletivização dentro do Plano Qüinqüenal, a imprensa comunista admitiu a ocorrência de muitos tropeços cruéis e terríveis na luta entre o governo e a população camponesa. Admitiu que a coletivização fora forçada; que houve insurreição anti-soviética; que houve destruição de implementos e de máquinas agrícolas e das colheitas, às vezes, de tipo armado; que muitos ativistas foram fuzilados e suas instalações incendiadas; que houve sabotagem em massa; que até houve colaboração entre comunistas e elementos contrários ao governo. Entretanto, jamais mencionaram que houve miséria, fome, reconhecendo como nefasto e ilógico esse crime para a história, pois os protagonistas da luta eram lavradores do campo e o proletariado russo. Para se justificar diante das massas trabalhadoras ucranianas que pessoalmente foram testemunhas dos trágicos acontecimentos, os comunistas oficialmente fizeram circular uma versão dos fatos explicando que não houve realmente miséria, nem fome, senão para aqueles que foram objeto de confisco por recusar-se colaborar nas granjas coletivas. E para se apresentar como inocentes do crime cometido instituíram um Tribunal onde foi julgado um grupo de agrônomos responsáveis pelo problema econômico. Para o mundo exterior davam uma explicação diferente. Atribuíam as notícias referentes à miséria, à imaginação criativa dos redatores capitalistas e burgueses, enquanto que realçavam o êxito alcançado pelo Plano Qüinqüenal. Em tal situação, as notícias relativas a miséria da Ucrânia constituíam somente uma parte das notícias sensacionalistas que o mundo logo esqueceu.
A cínica advertência de Stalin diante do Partido de que "a exploração, a desocupação e a pobreza das aldeias estavam desaparecendo paulatinamente" era também transmitida aos países do exterior. Ainda para o cúmulo, o comunista Herriot, Primeiro Ministro Francês, a quem os comunistas puderam vendar os olhos durante a sua visita a Ucrânia em 1933, reforçou incondicionalmente as afirmações de Stalin em referência à miséria. Herriot somente viu e visitou aquilo que os comunistas já prepararam com antecedência: granjas coletivas bem organizadas, camponeses bem vestidos, escolas bem freqüentadas, os habitantes da vila sorridentes agradecendo a honrosa visita. Nisto os comunistas soviéticos são mestres.
E agora, ao recordarmos esses acontecimentos de triste memória, que tanto enlutaram a nação ucraniana saibamos que seus filhos tombaram heroicamente em defesa do seu patrimônio nacional. A eles, as nossas homenagens sinceras e as nossas preces fervorosas. O inimigo invasor venceu uma batalha, mas não venceu a guerra. Do sangue derramado e da vida consumida pela horrível fome surgirão, como surgiram sempre na existência de 4000 mil anos da história da Ucrânia, novos heróis que continuarão a luta até a vitória final. Os homens podem ser destruídos pela morte, mas as idéias são eternas, não se destroem pelas armas. A idéia da Independência Nacional Ucraniana está viva, qual chama incandescente.
Como complemento de tudo quanto afirmamos neste nosso histórico sobre a Fome na Ucrânia queremos, em linhas gerais, dar alguns tópicos da súplica dos Bispos Católicos Ucranianos da Província Eclesiástica da Ucrânia Ocidental, dirigida a todos os homens de boa vontade, para chamar a atenção do mundo sobre as atrocidades inomináveis da Ucrânia Oriental praticadas pelo regime bolchevista.
Eis o seu clamor: “A Ucrânia agoniza. A população perece de fome. O sistema antropófago do capitalismo de Estado baseado na injustiça, no engano, o ateísmo e a corrupção, conduziu um país rico a uma ruína completa".
O Santo Padre Papa Pio XI protestou veementemente contra tudo aquilo que no bolchevismo se opõe ao cristianismo, a Deus e à natureza humana. "Protestamos diante do mundo inteiro, contra a perseguição das crianças, dos pobres, dos enfermos e dos inocentes. O sangue dos lavradores famélicos e escravizados que cultivam o solo ucraniano clama aos céus pedindo vingança. Imploramos aos cristãos do mundo, a todos que crêem em Deus que se unam a nós no nosso protesto e que façam conhecer a nossa dor nos rincões mais remotos da terra”.

[Sobre este assunto, ler também o livro "Escolhi a Liberdade" de Mikhail Voslensky]

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Leia também, nesta mesma página, o artigo:

UM POUCO DE HISTÓRIA DA UCRÂNIA - 27/02/2011

GÊNESE DA UCRÂNIA - 24/02/2011

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